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Ainda dá tempo

São José do Rio Preto, 29 de outubro de 2006

 

Fabiano Ferreira

Final de ano é sempre igual. Nesta época do ano, as pessoas ficam com o estresse a mil, preocupadas com a chegada das festas, cansadas com o acúmulo de trabalho e com a sensação de que o ano está acabando e os projetos programados estão longe de serem concluídos. Se você se enquadra nesta situação, a melhor coisa que tem a fazer é ter calma. Aproveite hoje para revisar seus propósitos, analisar o que ainda pode ser realizado e, o principal, programe-se para alivar o estresse, pois, caso contrário, entrará 2007 mais conturbado do que já está.

O valor do presente
A psicoterapeuta comportamental neurolingüista Marcelle Vecchi, de Rio Preto, recomenda que devemos começar a pensar no presente ao invés de estarmos sempre com nossa atenção no futuro, no que ainda não chegou. “Esse é o maior fator causador da ansiedade, mal que atinge a maioria. Deixamos de aproveitar as coisas boas de hoje nos preocupando com coisas que não sabemos como vão ser”, diz. Para ela, o o melhor momento de se praticar um hobby é quando não estamos com tempo para nada. O lazer foi feito para amenizar o estresse do dia-a-dia, pois nos faz pensar melhor, com mais eficiência. Quando estamos estressados ou ansiosos ficamos “andando em círculos”, sem resultados ou produtividade e não há rendimento algum.

Então o que fazer para ainda colocar em prática projetos que parecem emperrados? Segundo Marcelle, projetos que não saíram do papel provavelmente tiveram falhas em sua formulação, o que atrapalhou a geração de auto-motivação necessária à sua conclusão. “Muitas pessoas criam projetos que são importantes para os outros e não para elas mesmas”, observa a terapeuta. Ela diz que é muito mais produtivo formular projetos sobre o que você quer do que não quer. Mas, infelizmente pensamos mais no que não queremos Faça um teste : escreva uma lista do que não quer e outra do que quer. Responda: qual foi mais fácil de escrever ? Outro aspecto importante é traçar seus projetos não se exigindo nem demais nem de menos. É preciso encontrar seu meio-termo. Dessa forma evitará tanto as frustrações quanto o comodismo.

Se houver projetos ainda não realizados, redefina as datas para a conclusão deles, mas antes disso analise:

:: Esse projeto é algo que você quer ou algo que quer só para agradar aos outros?

:: O projeto é algo que mexe com seu coração ou é algo que tanto faz?

:: Não se esqueça que para conseguir algo, necessariamente, precisará abrir mão de algumas coisas. Você está disposto a isso?

:: Você formulou esse projeto baseado no que quer ou no que não quer?

Como se programar
Muita gente tem agenda,mas não sabe como usá-la. Só se deve colocar na agenda a quantidade de atividades que sabemos dar conta de cumprir. “Após ter selecionado as atividades do dia você deve se limitar e só fazer o que programou, não encaixando nada mais no dia. Se sobrar tempo livre, relaxe, aproveite o dia de alguma forma e lembre-se que tem direito a ter prazer. Em geral, quando pensa no conjunto de afazeres de final de ano as pessoas ficam extremamente preocupadas e estressadas. No entanto, se dividem esse conjunto em partes e vão cumprindo as etapas aos poucos, tudo fica mais fácil, sem estresse ou ansiedade.

Xô desânimo!
Para fechar 2006 mais satisfeito com as próprias realizações é preciso, em primeiro lugar, não deixar o desânimo tomar conta. Liste todas suas conquistas deste ano, das pequenas às médias e grandes. Elas podem ser: consegui organizar melhor minha casa; consegui comprar uma calça um número menor; consegui fazer uma viagem que há tempo venho planejando; recebi um elogio de meu chefe, e por aí afora. “Dessa forma você perceberá que está andando para a frente e não está parado como acreditava. Orgulhe-se de tudo que conseguiu e lembre-se que o excesso de auto-cobrança sempre nos leva à baixa auto-estima”, diz Marcelle Vecchi.

Ter um foco é fundamental para fechar metas de 2006
Planejamento, foco e determinação. Este é o tripé de ações para quem quer aproveitar os dois últimos meses do ano para colocar seus projetos em prática e começar 2007 mais aliviado. A consultora em desenvolvimento humano Eliana Barbosa, autora dos livros “Acordando para a vida – Lições para sua transformação interior” e “O enigma da bota – Enfrentando a sucessão empresarial com equilíbrio e sabedoria” (Novo Século Editora), dá algumas dicas de como aproveitar mais esta etapa final de 2006, vivendo com mais qualidade e espantando o estresse comum nesta época do ano:

Diário da Região – Faltam dois meses e três dias para acabar o ano e muitas pessoas estão extremamente estressadas. O que fazer para aliviar as pressões de final de ano, no trabalho, nos estudos e na vida afetiva, e viver com mais qualidade até a chegada de 2007?
Eliana Barbosa – O estresse de final de ano é realmente muito comum, principalmente em pessoas ansiosas e preocupadas, e naquelas indisciplinadas em relação ao gerenciamento de seu tempo. Quando “acordam”, percebem que o ano já está no final e que deixaram de realizar muitas metas programadas, por falta de um planejamento mais detalhado. O final de ano representa a hora do acerto consigo mesmo. Se a pessoa é muito perfeccionista, instala-se nela a culpa por não realizar tudo o que queria e ela se estressa por entender que não tem controle de tudo. Outro fator agravante do estresse de final de ano são as reuniões familiares, que para certas pessoas são aguardadas com muita apreensão e até irritação, em casos de famílias com problemas de relacionamento. O que também estressa muito as pessoas, a meu ver, é a pressão do consumismo, dos presentes a comprar, e a necessidade de economizar nesta época para se preparar para os impostos do começo do novo ano. Tudo isso é muito estressante, principalmente para as pessoas inseguras e negativas. O que fazer então? O primeiro passo é tomar consciência das pressões que lhe causam tanto estresse e dedicar-se a aliviar a tensão com mais otimismo, calma e autocontrole. Esta é a época do ano que mais nos cobra equilíbrio das emoções, para fazermos um levantamento do ano que passou, dos acertos e dos erros e do que precisamos mudar para que as metas não atingidas possam ser viáveis no novo ano. Flexibilidade é fundamental neste processo.

Diário – O que fazer para ainda colocar em prática projetos que haviam sido planejados no início do ano, mas que não saíram do papel?
Eliana – Muitos projetos que temos não saem do papel porque somos especialistas no ato da procrastinação – deixar tudo para a última hora, ou melhor, adiar o que tem de ser feito logo. Aí, vai chegando o final do ano e a frustração aparece, porque a pessoa percebe que muita coisa planejada não foi realizada. Ainda é tempo de implementar projetos que estão parados, desde que eles só dependam do seu foco e esforço. Mas o mais importante é não se esquecer daquilo que você programou e manter a sua mente focada naquilo que quer conseguir. Só que nada cai do céu. Temos de lembrar que o sucesso só vem antes do trabalho no dicionário. Nenhum projeto em nossa vida é viável se não houver esforço diário na sua realização. E lembre-se: tudo o que é feito na correria está fadado a erros e tropeços. Se o seu projeto ainda não está preparado para se tornar realidade, o melhor a fazer, sem culpa, é estender seu prazo e incluí-lo nas metas do novo ano.

Diário – Uma das dificuldades das pessoas é priorizar o que fazer nesta época do ano. Como podemos otimizar o tempo e focar no que é necessário?
Eliana – Sua grande prioridade, em qualquer época do ano, deve ser você mesmo! Priorize a sua qualidade de vida, o seu bem-estar, para não sofrer decepções mais tarde. Aprenda a dizer “não” para as pessoas e atividades que roubam o seu precioso tempo e não lhe trazem nenhum resultado. A melhor maneira de otimizar o seu tempo é separando as atividades a serem cumpridas de acordo com a sua importância e urgência. Para não se esquecer de nada, listas e mais listas! Todas as noites, ao deitar, revise em sua agenda as atividades realizadas e as não-realizadas e anote a agenda do dia seguinte, incluindo tudo o que ainda não pôde ser feito, mas que faz parte dos seus planos. Para o final do ano, a minha sugestão é que você primeiro coloque todas as suas contas em dia e planeje o que vai gastar com muito cuidado, porque presentear é muito bom, mas ficar com dívidas para o ano seguinte é extremamente desanimador e não compensa. Pense nisso! E se você tem ainda muitas atividades planejadas até o final do ano, procure usar a técnica do passo-a-passo: uma coisa de cada vez.

Diário – Como driblar o cansaço neste final do ano, quando estamos a praticamente dois meses de iniciar uma nova etapa?
Eliana – Se possível, relaxe um pouco e aprenda a delegar tarefas para aqueles que estão ao seu lado. Procure planejar alguns dias de descanso também, porque este é um planejamento que traz uma sensação de alegria e bem-estar antecipados. E não se deixe, jamais, levar pela onda do consumismo, porque você não precisa de presentes caros para agradar ninguém. Quem gosta de verdade de você, vai se sentir presenteado com a sua presença, com o seu telefonema ou com um simples cartão. A meu ver, o que mais nos estressa é a gente querer ser igual a todo mundo e termos a dificuldade de dizer “Não!” ou de dizer “Basta!” na hora certa.

Diário – Muitas pessoas já estão ansiosas com a chegada do próximo ano, ao mesmo tempo em que estão desanimadas por não ter conseguido atingir todos os objetivos que tinham. O que você tem a dizer a elas?
Eliana – O que digo é que sempre é tempo de se fazer algo melhor! Sempre é tempo de retomar um projeto e aproveitar as oportunidades que passam a todo instante. Projetos inacabados, por certo, todos temos. Cabe a você saber qual retomar primeiro, qual o mais importante hoje. Portanto, sem justificativas vãs, assuma o controle das suas metas e termine este ano, mas vivendo um dia depois do outro. Faça o melhor que puder hoje, agora, porque é de pequenos passos que se faz a caminhada para a vitória. Uma dica: tenha sempre suas metas por escrito em um papel, bem específicas e datadas e procure colocar este papel dentro da fronha de seu travesseiro: quando for dormir, vai sentir o papel sob sua cabeça e se lembrará de ler as metas e depois, guarde-as ao lado de sua cama. No dia seguinte, ao arrumar sua cama, leia-as novamente e guarde-as com o seu travesseiro. Esta é uma técnica infalível para você estar sempre sintonizado com os seus projetos. E que o seu projeto maior de vida baseie-se no princípio da melhora contínua: “Hoje serei melhor do que ontem e amanhã serei melhor do que hoje”.


Para refletir:

Tempo de Viver
Eliana Barbosa

Por mais que algumas pessoas tentem se mostrar superiores às outras, há alguns aspectos da vida humana que fazem todos serem iguais. Todos vêm ao mundo despidos, todos têm a certeza da morte e todos têm 24 horas a cada dia para serem melhores. Tempo… sim, o tempo é uma riqueza que iguala as pessoas… Quando o dia amanhece, seja você um alto executivo ou um humilde operário, todos nós temos o mesmo tempo que passa e não volta mais. São 1440 minutos por dia para você escolher quem você quer ser, para você decidir se vai dirigir sua vida ou se vai aceitar que o manipulem mais uma vez!
É muito tempo por dia para você desperdiçar com lamúrias e recordações do passado ou com medo do futuro e ansiedades desnecessárias. Falta a você, muitas vezes, a noção de que você é dono das suas horas e depois do tempo perdido, não adianta se lamentar. Reflita comigo: será que você é daquelas pessoas que deixam de aproveitar o seu presente, guardando-o para o futuro? Vou explicar melhor: tem pessoas que acumulam muitos bens materiais e não os usufruem… preservando-os para o futuro. Mas que futuro é esse? Se o presente não é aproveitado, nem valorizado, não há futuro delineado. Um futuro brilhante é feito de uma sucessão de dias presentes bem vividos. Pare de se colocar “em conserva” e comece a observar as preciosas oportunidades que o presente lhe apresenta. Você é o que é agora, resultado do que foi ontem e prenúncio do que será amanhã. Mas agora, só existe o hoje para você viver.

Faça, então, que o seu hoje seja de prazer em estar com os outros, satisfação em ser generoso, felicidade por ter sobrevivido ao passado e alegria de viver. Para você, para mim e para o mundo inteiro, só importa o hoje, o presente que Deus nos oferece a cada amanhecer. Viva bem, porque tudo o que você terá no futuro depende de você agora! Jamais deixe para amanhã uma declaração de amor ou um pedido de perdão. Faça já o que tiver que ser feito – vencedores não adiam a própria vitória! Desfrute mais da sua família, do seu trabalho, dos presentes que você ganha, porque um dia, tudo isso será apenas… saudade! Conta uma história, de autor desconhecido, que “havia um menino que tinha adoração por patins. Era tudo o que ele queria na vida. Pediu, pediu, tanto fez que conseguiu. Ficou muito feliz com o par de patins, não desgrudava deles um minuto sequer. Só que no primeiro tombo, no primeiro arranhão, ele ficou com medo de estragar os patins e resolveu guardá-los. Os patins ainda eram a coisa de que ele mais gostava, mas ele preferiu apenas ficar olhando e não usar mais para não estragá-los. O tempo foi passando e os patins guardados… Passaram-se anos e o garoto acabou esquecendo-se deles. Então, certo dia, ele lembrou-se da sua infância, sentiu saudades dos seus patins e resolveu recuperar o tempo perdido. Foi até o armário, revirou tudo e finalmente encontrou os patins. Correu para calçá-los, porém… que terrível surpresa: os seus patins não cabiam mais nos seu pés. O jovem, acometido de profunda tristeza, chorou e lamentou os anos perdidos e que não seriam mais recuperados. Poderia sim comprar outro par de patins, mas, para ele, eles nunca seriam iguais àqueles.” É por isso que eu digo sempre: Acorde para a vida! Você só tem o hoje para viver. O ontem já se foi – é história – e o amanhã ainda não chegou – é uma simples suposição!

 

 

Hora de Acordar

São José do Rio Preto, 3 de abril de 2005

 

Fabiano Ferreira

00:33 – Não dá mais para alegar desamparo. Nunca foi tão acessível obter ajuda para resolver problemas emocionais como atualmente. A terapia se popularizou, os medicamentos para tratar depressão e seus desdobramentos estão cada vez mais eficientes, crescem os grupos de auto-ajuda e até igrejas oferecem orientação psicológica de graça. Para completar, as bancas e livrarias estão repletas de livros, revistas e jornais com pilhas de conteúdo para ajudar os leitores a terem uma vida mais equilibrada e feliz. Cada caso é um caso, e não podemos generalizar. Mas não se trata quem não quer. Só padece à toa quem tem resistência à mudança e fica “à espera de um anjo”, de “uma graça vinda do céu” ou da “pílula da felicidade” (essa, por sinal, está longe de existir).

Diante de tudo, resta uma saída: é hora de acordar. O ditado popular já diz que “acordar para a vida” é fazer uma boa reflexão sobre a realidade, aprender com o passado e tomar atitudes que projetem um futuro melhor. “Sempre digo: acorde para a vida, encontre-se consigo mesmo e descubra quão rico de talentos você é, e quão longe você pode caminhar”. O conselho é da es-critora mineira Eliana Barbosa, que acaba de lançar o livro “Acordando para a Vida” – Lições para sua transformação interior” (Editora Novo Século), com prefácio de Lair Ribeiro. Consultora em desenvolvimento humano, Eliana defende que é possível despertar um novo interesse pela vida, com profundas análises sobre a força que cada um carrega dentro de si.

“Temos de converter sentimentos destrutivos como as culpas, as mágoas, o egoísmo, a inveja, os medos e a solidão, por exemplo, em atitudes positivas como o perdão, o auto-perdão, generosidade, otimismo, entusiasmo, liderança e alegria de viver”, diz Eliana. O ponto de partida para toda a mudança deve ser o fortalecimento da auto-estima. Quem não se ama o suficiente não consegue resolver os próprios problemas, que dirá ajudar quem está próximo. A escritora diz que neste processo não adiante jogar a culpa no outro. A responsabilidade é sua. É claro que o caminho para uma vida saudável e feliz pode ser tortuoso.

Os problemas vão e vêm. O que deve mudar é a maneira como os tratamos, o modo como lidamos com eles. Quem repete comportamentos está fadado à frustração. “Vivemos num mundo em que a insatisfação das pessoas consigo mesmas e com sua própria vida é enorme. Pessoas insatisfeitas costumam reclamar da falta de oportunidades, mas, em geral, não se preparam para recebê-las. Elas vinculam a solução de seus problemas a atitudes de outras pessoas, esquecendo-se de que a vida nos dá exatamente aquilo que dela esperamos”, escreve Eliana. O segredo para viver bem, diz a consultora, é mudar o próprio modo de pensar e não a forma como os outros pensam e são. “Para ter mais alegria, a chave é encontrar sua finalidade de vida”.

Ter objetivos e conhecer os próprios limites ajuda bastante na tarefa de encontrar a estabilidade física e emocional. Para Eliana, cada um de nós nasceu abençoado com um propósito e uma missão a cumprir. Existe, porém, um compromisso maior e comum a todos nós, que é a responsabilidade de tornar o mundo em que vivemos melhor, seja material, moral ou espiritualmente. Ninguém está na Terra só para ver o tempo passar e comentar sobre o que se vê. “Por meio de escolhas e de oportunidades que nos são dadas, somos, a todo instante, chamados a participar desse processo evolutivo”, diz.


 

“É preciso aprender com as lições diárias”
A melhor fonte de lições para nós é nossa própria experiência de vida. O problema é que muitas pessoas não conseguem voltar seus olhos para dentro de si e por isso precisam de ajuda. Nestes horas é que vale a máxima popular “acordar para a vida”. “É preciso se conscientizar que você é o senhor do seu destino. Temos de parar de jogar a culpa nos outros ou na vida pelas próprias escolhas erradas. O ideal é encontrar o sentido de estar vivo, aqui e agora”, diz a consultora em desenvolvimento e escritora Eliana Barbosa. Em entrevista ao Diário, ela falou sobre crescimento pessoal e profissional e como podemos aproveitar mais as lições que a vida nos dá para passar por uma transformação interior.

Confira trechos da entrevista:

Diário da Região – Quando se começa a construção da auto-estima? Como os pais podem incentivar que os filhos a tenham desde cedo?
Eliana Barbosa – A constru-ção da auto-estima se inicia des-de a vida no ventre materno, porque se já sabemos que o feto pode até ouvir os sons externos e sentir o estado emocional da mãe, pode perceber também se é bem-vindo ou não na família. Então, sempre sugiro às gestantes muita conversa carinhosa com o bebê, e sempre em um tom otimista em relação à vida: “Seja bem-vindo a este mundo!”, “Esperamos ansiosamente o dia de pegá-lo no colo”, “Você já é muito amado por toda a sua família”. E depois de nascido, os pais devem continuar esta programação positiva, com palavras de incentivo, elogios verdadeiros na hora certa e, na hora de repreender, procurar mostrar aos filhos que o que os desagradam não são eles como pessoas, mas sim as suas atitudes não corretas, que podem ser mudadas quando quiserem. Para que não venhamos a destruir a auto-estima de quem quer que seja, jamais devemos criticar as pessoas em si, e sim, se for necessário, as suas atitudes.

Diário – Se podemos fazer escolhas, por que nem sempre as pessoas optam por um caminho mais fácil? Ou seja, por que, em geral, fica mais fácil complicar?
Eliana – As pessoas que acreditam nas dificuldades e gostam de complicar os seus caminhos são, a meu ver, pessoas que carregam culpas dentro de si, muitas vezes até inconscientes. Então, procuram o sofrimento com as próprias escolhas negativas que fazem porque, inconscientemen-te, não acreditam que merecem o melhor. Ficam patinando na vida, sem perspectivas de crescimento.

Diário – Como podemos reconhecer nossas limitações? Quais os prejuízos que temos ao não reconhecê-las?
Eliana – Reconhecer nossas limitações é um dos aspectos do processo de autoconhecimento pelo qual todos nós devemos passar. Para reconhecermos os nossos limites é preciso humildade e capacidade de ouvir as pessoas, porque os outros têm mais possibilidade de enxergar os nossos defeitos e dificuldades. Só temos de tomar cuidado para não acreditar em tudo que nos dizem, de bom ou de ruim, e sim, aproveitarmos a oportunidade para refletir sobre isso. E até digo que, neste ponto, os inimigos nos ajudam muito mais que os amigos, porque eles nos mostram, sem medo de desagradar, aquilo que ainda temos como imperfeições, nos fazendo acordar para os nossos limites. Quando não reconhecemos as nossas limitações, fica difícil estabelecer metas para as nossas realizações. Se não sabemos onde estamos, como vamos saber que caminhos tomar e aonde queremos chegar?

Diário – No livro, a senhora fala sobre os diferentes tipos de medos que temos. Por que desenvolvemos estes medos? Como lidar com eles para que não sejam entraves para o nosso crescimento?
Eliana – O medo simboliza uma falta de confiança no processo da vida. Nós, seres humanos, já crescemos com seis me-dos básicos, inerentes a todos nós, que são: medo da pobreza, da crítica, das doenças, da perda do amor de alguém, da velhice e da morte. E, mais recentemente, em uma pesquisa norte-americana, foi descoberto outro medo bastante comum: o medo da loucura. E, além destes medos, ainda podemos apresentar, às vezes, outros “pequenos grandes medos” devastadores, tais como o medo do sucesso, o medo de ser feliz, medo da riqueza, medo da solidão, medo das mudanças etc.Acredito que desenvolvemos estes medos desde a infância devido às crenças que nos são passadas de uma geração à outra. É claro que temos medos necessários à nossa sobrevivência que são positivos, que também aprendemos com os nossos pais, mas os medos destruidores da auto-estima e da autoconfiança devem ser detectados por nós através da prática do autoconhecimento e podem, perfeitamente, ser trabalhados para que tomemos consciência de que enfrentar o medo é fazer o que tem de ser feito, mesmo com medo. Isto é coragem! Sempre indico às pessoas um trabalho de mudança de padrões de pensamentos e visualizações de situações que eram de medo sendo resolvidas com a maior naturalidade. O poder de nossas mentes é fantástico e ninguém pode nos apoiar na solução de nossas dificuldades se não permitirmos. Cada pessoa traz dentro de si um médico, um psicólogo, um professor interior. Basta acioná-los na hora certa e colocá-los em ação.

Diário – Embora cercados de pessoas, muitos reclamam da solidão, aquele “vazio interior” que assola a humanidade. Como mudar esta situação?
Eliana – Eu acredito que a pessoa que tem uma baixa e frá-gil auto-estima não consegue perceber que ela mesma é a sua melhor companhia. E, com isso, passa a se sentir só mesmo quando acompanhada de outros, porque vive um vazio interior. E quem não se ama o suficiente, não tem amor de sobra para os outros. Por mais que tente, não consegue convencer os outros da sua dedicação. E, com isso, começa a se sentir só. Então, o caminho para o combate à solidão é o seguinte: primeiro, alimente a sua auto-estima e seja solidário, porque, como diz o ditado, “o homem solidário jamais encontra-se solitário.” Busque fazer uma diferença construtiva na vida das pessoas, construindo “pontes” ao invés de “muros” em sua trajetória de vida, pois assim, o sentimento de solidão jamais fará parte da sua existência.

Diário – No trabalho, o pecado capital que reina é a inveja e muitas vezes não nos damos conta de que estamos agindo com inveja ou sendo alvos dela. O que fazer nestas situações?
Eliana – Infelizmente, até hoje, a inveja é um sentimento pre-sente em todas as relações inter-pessoais, quer familiares, sociais ou profissionais.Precisamos aprender a lidar com este sentimento tão destrutivo para quem o tem. Primeiro é preciso ficar claro que há uma diferença entre inveja e admiração. Você pode admirar a competência e as qualidades do seu colega sem, no entanto, invejá-lo. A inveja se estabelece quando a pessoa vê as qualidades, mas só enfatiza os defeitos do outro, praticando, em muitos casos, até a maledicência. Ao invejoso, que muitas vezes nem percebe que é, eu sugiro que comece a cuidar da própria vida, fazendo um exercício de autocomparação, ou seja, que perceba que ele, hoje, é muito melhor do que era tempos atrás e pare de se comparar com os outros, porque sempre existirão pessoas melhores e piores do que ele, em qualquer área de sua vida. A quem se sente incomodado com a inveja alheia, só digo o seguinte: se você não quiser ser invejado, então não faça nada, não fale nada, não seja nada. Porque como diz este forte ditado, “ninguém chuta cachorro morto”. Se hoje você é invejado pelos outros, então saiba que, de alguma forma, você está fazendo a diferença e isto é muito bom, afinal, de que adianta passar a vida inteira escondendo os seus talentos, para não ser invejado? Quem vai ganhar com isso? Ninguém!

Diário – Quais as vantagens de valorizar o “aqui e agora”, em vez de remexer o passado ou especular sobre o futuro?
Eliana – O “aqui e agora” é o nosso presente, dádiva que rece-bemos para transformarmos a nossa vida. O passado é só histó-ria, não podemos mudar nada, mas podemos, no presente, com consciência, mudar a nossa interpretação dos fatos passados da nossa vida. Hoje, com a intensa busca do ser humano em se auto-conhecer e melhorar a sua vida, fica mais claro que o passado só deve ser lembrado pelas lições preciosas que deixou e o futuro deve ser planejado, sim, através de metas bem estabelecidas. Tem pessoas que vivem com um pé no passado (mágoas, culpas e lembranças do que não volta mais) e o outro pé no futuro (preocupações e medo do que poderá vir a acontecer) e esquecem-se que a vida é o hoje, o aqui e o agora. Tudo o que virá depende da forma como você vive o presente. O resto é passado (que não mais existe) e futuro (que ainda não existe).

Diário – Cada vez mais se valoriza a fé como instrumento poderoso para manter uma pessoa equilibrada e até mesmo ajudar na recuperação de doenças. Mas o que a senhora diz sobre aquelas pessoas que têm fé, são até bastante religiosas, mas entregam tudo nas mãos de Deus e se esquecem da sua parcela de responsabilidade?
Eliana – Realmente, há mui-tas pessoas que não entendem ainda que o universo só apóia quem sabe o que quer e quem faz a sua parte. Eu também conheço muitos indivíduos, extremamente religiosos, que, ao invés de tomarem atitudes transformadoras em suas vidas, buscam a religião como forma de transferir as suas responsabilidades e compromissos nas mãos de Deus. Não cuidam da saúde, vivem de forma desregrada, agridem suas consciências e depois começam a rezar pedindo socorro para as suas dores e sofrimentos. E o que percebemos é que todos que agem assim, ainda reclamam que suas preces não são atendidas e acabam vivendo em um círculo vicioso que não se resolve. O cultivo da religiosidade é de extrema importância. Pesquisas apontam que as pessoas realmente prósperas e bem-sucedidas são pessoas que buscam desenvolver a própria espiritualidade, acreditando em uma Força Superior que apóia os seus esforços. Para que nossas preces realmente surtam efeito, as atitudes construtivas precisam integrar o nosso viver. Eu sempre digo que o universo adora apoiar quem sabe o que quer!

Diário – Valores como gratidão, honestidade e perdão infelizmente parecem não ser tão claros para os jovens de hoje. Como a senhora vê o futuro desses jovens? O que os pais e a sociedade podem fazer para contribuir?
Eliana – A grande responsabilidade dos pais e da própria sociedade é o exemplo. A função dos pais, no mundo de hoje, é muito mais difícil porque a juventude atual é mais rebelde, quer se libertar mais cedo, o que de certa forma é até positivo. Só não está sendo bem negociado. Cabe aos pais exemplificar e valorizar mais atitudes como a gratidão (mostrando que quanto mais agradecemos, mais motivos temos para agradecer), a honestidade (fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós) e perdão (sentimento que nos liberta e previne doenças e dificuldades financeiras), e muitos outros valores, dentre eles a religiosidade, a solidariedade e a paz de consciência. O futuro de jovens que não aprenderam ou não vivenciam os valores humanos em suas vidas é previsível: baixa auto-estima, péssimos relacionamentos, sonhos frustrados, dívidas financeiras e solidão, infelizmente. Cabe a nós como pais e sociedade buscarmos uma forma de tocar o coração dos nossos jovens para o seu crescimento pessoal, conscientizando-os da importância deles na evolução deste mundo.

Diário – Qual a importância de aceitar perdas naturais da vida?
Eliana – Vivemos em um mundo em processo permanente de mudança. Mesmo sem querer ou perceber, mudamos todos os dias. Mudamos em relação a sentimentos, ou conhecimentos, ou mesmo fisicamente, com o passar dos minutos. Isto é um fato incontestável e, junto com qualquer mudança, vem o sentimento de perda. Temos de aceitar sim porque em todas as transformações de nossas vidas há sempre os ganhos e as perdas naturais. Para você se tornar adulto, você perdeu a sua adolescência, quando você mudou para um emprego melhor, alguma coisa você deixou para trás no antigo emprego. Toda escolha implica perdas e sabendo disso, fica menos angustiante tomar decisões, porque você já se prepara para não se decepcionar com as perdas e começa valorizar os ganhos. Uma das perdas naturais da vida e para a qual precisamos estar preparados é a perda de entes queridos, através da tão temida morte. É doloroso, mas não temos outra escolha senão a aceitação. É preciso paciência neste processo de assimilação à nova realidade e, depois, aceitar o fato e prosse-guir com a vida, porque se ela ainda existe para você é porque a sua missão ainda não acabou. O que não se pode perder nunca é a esperança.